Justificativa: O presente trabalho busca ofertar uma coletânea de charges sobre como o mundo árabe enxerga, interpreta e ilustra os conflitos, as ironias políticas, os silêncios e as violências que cercam a questão Palestina. Para isso, a dupla escolheu um corte temporal bem recente, dos dezoito anos dos anos dois mil, a fim de exibir não apenas como a reivindicação e exclusão Palestina ainda são vivas, como estão em curso e em produção. Com 70 anos da criação do Estado de Israel e a situação se apresenta ainda irresoluta, violenta e com forças desiguais em cada um dos lados. Logo, a importância que estes trabalhos têm é uma possibilidade dupla, da qual permite que brasileiros vejam novas ilustrações (mais acessíveis e chamativas, mas igualmente críticas), mesmo aquelas com frases e balões de fala limitantes pelo árabe, idioma muito diferente do português; bem como, mas principalmente, uma oportunidade de permitir com que o árabe (não apenas o palestino, mas ele também de certo modo) de se representar e de retratar também seu lado e sua perceptiva sobre o que se passa na Ásia Ocidental, especificamente, na Palestina.
Esta iniciativa é decorrente daquilo que Edward Said, tanto em Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente, 1978, como em A questão da Palestina, 1979, diz sobre a falta de direito que o árabe sempre teve sobre falar sobre si no ocidente; sejam nas pinturas orientalistas do século XIX, até em todo o discurso que permeia o século XX, quem fala ou cria a figura depredada e deformada destes povos foi o europeu, mesmo o europeu sionista.
"O fato é que os 'árabes' eram sempre representados, nunca podiam falar por si mesmos; somando esse fato, paradoxalmente, a uma visibilidade política cada vez mais patente, explica-se por que lhes é negado esmagadoramente um lugar decente na realidade – ainda que estejam instalados na terra." (SAID, 1979, p. 29)
Assim, esta coletânea, a partir do acesso tecnológico, permite a capacidade dos agentes de falarem sobre o que enxergam. Mesmo assim, ao fazer as pesquisas, percebe-se como a atualidade e a realidade nas palavras de Said quando ele diz sobre o discurso de deslegitimação destas produções como antissemitas, pois, ao fazer a pesquisa na internet sobre estas charges, facilmente se chega em notícias de jornais (como o jornal Times Israel), além de páginas e blogs informativos que adotam a posição de que estas ilustrações são antissemitas, propagam ódio, similares a propagando nazista, as vezes até consideradas “satânicas”. Uma posição defensiva quanto o que o árabe pode dizer sobre Israel, ou sobre o que pode dizer sobre ele mesmo, direito que não os cabe, nesta lógica orientalista.
Confira o trabalho completo aqui: [PDF]
Coletânea realizada por: Beatriz Alves Reis e Marina Garcia, 2018.
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